Aos 102 anos, Elza Fructuoso comemora a vida

Estadia em Itapeva com a filha Marisa, a neta Flag e o neto Márcio
Estadia em Itapeva com a filha Marisa, a neta Flag e o neto Márcio

Elza Fructuoso completou em 2017, 102 anos. Itapevense, filha do Jesuíno de Oliveira Mello, que por muitos anos foi presidente do Clube Treze de Maio, ela mora na capital paulista há mais de 70 anos e visitou sua terra natal este ano para rever amigos, parentes e relembrar suas histórias da infância e juventude vividas em Itapeva.

Durante sua estadia na terra natal, esteve sob os cuidados da sua filha Marisa e de sua neta Flag. Elza fez questão de assistir à missa na Catedral de Santana, rever a centenária Paineira, onde ia brincar e conversar com as amigas durante a infância. Assistiu à apresentação da Lira na Praça, relembrou sua infância saboreando seu doce predileto “bombocado” e tomou vinho. “O vinho é um dos segredos da sua longevidade”, brinca sua neta Flag. Elza conta que passou a tomar uma taça de vinho por dia, pois seu marido - caminhoneiro - sempre lhe trazia uma garrafa de suas viagens.

No encontro com o diretor de Cultura de Itapeva, Flávio Carvalho, ela falou sobre suas memórias, episódios da história da cidade e do seu espírito vencedor, o que trouxe como lema em sua vida. “Tive uma vida muito bonita e limpa” diz D. Elza. Na escola, sua dedicação aos estudos era intensa, para garantir o primeiro lugar da turma. No trabalho acontecia a mesma coisa. Ela chegava a passar noites produzindo peças de crochê, as quais ainda faz, mas em menor escala. Aliás, fazer crochê é um dos seus passatempos favoritos!

 

Elza, com 102 anos

Elza, com 102 anos

 

Sua história

Elza nasceu em Itapeva, no dia 27 de julho de 1915. É filha de Jesuíno de Oliveira Mello e de Julia Lourenço dos Santos. Quando tinha três anos, sua mãe faleceu acometida pela gripe espanhola. Ela e sua irmã Claudina foram criadas pela tia, irmã da sua mãe, Maria Madalena Camargo, também conhecida como “Lena” e pela tia-avó conhecida como “Sinhana”.  Ela considera que teve uma infância feliz ao lado das tias e primas, Ester e Lisenor e Docarmo.

Estudou no “Grupo Escolar Coronel Acácio Piedade”, hoje Escola Municipal Coronel Acácio Piedade e lá trabalhava como inspetor de alunos seu tio Pedro Camargo, conhecido como Pedro Toucinho, irmão de sua mãe. Ela recordou que trocava lanches com as colegas: “Eu levava laranjas descascadas pela minha avó e trocava por pão com manteiga ou doces”.

Seu pai casou-se novamente com Silvia Camargo e teve mais oito filhos: João, Isabel, Olinda, Neusa, Esne, Paulo e Benedita. Ele foi sapateiro, oficio que aprendeu com a família pela qual foi criado, a família Tortelli. Mais tarde, abriu sua própria sapataria e ficou conhecido como Jesuíno Sapateiro. Ele também era conhecido como leiloeiro, pelas apresentações na praça central. Foi fundador e presidente do Clube Treze de Maio, clube mantido e frequentado na época, pelos negros da cidade.

Segundo Elza, o Clube Operário também era frequentado pela classe pobre branca, enquanto o Gabinete de Leitura (antiga sede social do Itapeva Clube) era frequentado pela elite itapevense. Ao falar sobre os clubes e a vida social de Itapeva no passado, ela lamenta a transformação do “Gabinete” em uma loja. “Lá era o local de festas. Eu só entrava para levar doces” recordou-se.

Apesar da vida humilde, ela conta que foi cercada de muito carinho. Da adolescência, sente saudades das tardes de passeios pelo “Jardim”, como era conhecida a Praça Anchieta. As moças da época tinham o hábito de circular pelo lado de dentro da praça e os rapazes pelo lado de fora, em sentidos contrários, de modo que se encontrassem. As mães e tias ficavam sentadas nos bancos conversando. E foi em um desses encontros, que Elza conheceu o seu marido João de Deus Fructuoso. Ela recordou do seu casamento na catedral e da sua festa de casamento no Clube Treze de Maio. Eles tiveram cinco filhos: João Wilson, Orlanda, Antonio (já falecido), nascidos em Itapeva e Marisa e Mauro, nascidos em São Paulo. Como seu marido era motorista de caminhão, ele proporcionou a ela e aos filhos muitas viagens: “Conheci o Brasil inteiro, com o meu marido e até hoje gosto muito de viajar”, diz ela.

 

Família de Elza

Família de Elza

 

Depois do nascimento de seu terceiro filho, falecido logo em seguida, Elza mudou-se para São Paulo, no bairro dos Campos Elíseos, na época, área nobre da capital. Ali estava instalado o Palácio do Governo, próximo da sua casa, e era lá, no “Palácio”, que aos domingos sua filha Marisa brincava com as bonecas da filha do então presidente Jânio Quadros.

Enquanto o marido viajava a trabalho, ela também trabalhava fazendo costuras, bordados e crochê. Criou os quatro filhos e a maioria dos seus sete netos: Christine, Isis, João Miguel, Flag, Marcio, Rodrigo e Déborah.  Até o momento ela tem quatro bisnetos: Marcio Jr, Mirela, Giovana e Lorena.

Viúva há mais de 45 anos, Elza reside em São Paulo com seu filho caçula Mauro e sua família, e sempre diz que se considera uma pessoa privilegiada, pois teve uma vida feliz: “Tive um bom marido e quatro filhos bem criados, com diploma universitário”.

Na sua atual rotina, dorme bastante, faz seu crochê, alimenta-se moderadamente e das saudades que guarda no coração, está seu marido, pessoa que ela admirava por sua honestidade e altruísmo. “Ele era muito bom, ajudava parentes e seus colegas de trabalho, quando enfrentavam situações difíceis”, conta.

Para a família, Elza é um exemplo de força, honestidade e coragem. Filhos, netos, sobrinhos, as duas irmãs e amigos comemoraram seu centenário com muita alegria. Como diz sua filha, Marisa: “Ela tem uma saúde invejável para a sua idade, não usa óculos para ler e tem uma memória remota surpreendente”.

Com um sorriso no rosto e um brilho nos belos olhos verdes, Elza segue sua vida fazendo o seu melhor, desafiando as limitações supostamente impostas pela idade e perpetuando assim, a sua posição de destaque no mundo.