Armazém do Gino completa 60 anos e vira point da cidade

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Um dos comércios mais antigos de Itapeva é hoje o mais movimentado ponto de encontro da cidade

Aqui o novo e o antigo se misturam. De um lado, jovens de todas as tribos se reúnem para confraternizar e tomar aquela cervejinha no fim de tarde. De outro, a velha guarda se encontra no balcão para bate-papos saudosos ou até mesmo para fazer a compra do mês. No Armazém do Gino, que completa 60 anos em 2018, os de longa data tem atenção especial, com direito a conta anotada na caderneta.

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Fernando Glauser, filho de Gino, assumiu o lugar do pai. A proposta do herdeiro é manter viva a história do Armazém.

Os últimos 38 anos foram comandados pelo empresário Higino da Silva Moreira, o famoso Gino, que dá nome ao Armazém. Após seu falecimento, no final de 2016, foi o seu filho, Fernando Glauser, que assumiu a empresa e mudou sua vida para dar prosseguimento ao sonho do pai. “Nunca tive contato com o Armazém. Eu tinha outra empresa, de outro segmento, e jamais imaginei que um dia assumiria o negócio do meu pai. Na verdade, eu nunca imaginei que ele iria partir, era meu herói”, diz. Fernando era dono da empresa Cellcomp, que prestava serviços de assistência técnica a celulares e computadores.

Ao assumir o lugar do pai, Fernando fez questão de manter o sistema antigo e reforçar os laços com clientes e amigos de muitos anos, que já compravam no armazém antes mesmo do estabelecimento ser da família. O primeiro dono do ponto, o senhor Jorge de Barros, hoje com 90 anos de idade, relembra como tudo começou. “Eu já era comerciante quando o Campolim resolveu construir este prédio e alugar para mim. Foi uma iniciativa ousada, tendo em vista que tudo aqui era mato na época. Foi aqui que vivi e sustentei minha família por mais de 20 anos”, relembra.

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Jorge de Barros é a história viva do local. Aos 90 anos, ele relembra os tempos em que era dono do Armazém, antes de vendê-lo ao Gino em 1980.

Jorge de Barros conta ainda que a negociação para vender o ponto para o Gino foi longa. “Sempre conversávamos e ele me propunha comprar o estabelecimento. Foram várias conversas até que, em janeiro de 1980, passei o ponto para ele”, recorda. “O melhor de tudo que levo daqui são os bons amigos, que trago até hoje comigo”, completa.

O aposentado Zé Garrucha, que está prestes a completar 80 anos, é um dos clientes mais antigos e mais assíduos do Armazém. Como um ritual, todos os dias ele passa no bar para encontrar com os amigos antes de iniciar o seu dia. Mesmo com várias opções de supermercados na cidade, Zé Garrucha mantém suas compras anotadas no caderninho. “Aqui tem tudo que o que a gente precisa. É um costume antigo comprar aqui. Temos a facilidade de anotar na conta, sem falar que o preço é muito bom também. Até dinheiro pegávamos emprestado aqui, quando a coisa apertava”, diz.

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Das antigas. Zé Garrucha é uma dos mais antigos clientes do Armazém. Até hoje, ele dá uma passada no bar todos os dias para rever amigos e relembrar os velhos tempos.

Zé Garrucha conta que além de cliente, ele se tornou amigo dos antigos donos. “O Armazém faz parte da minha vida e da minha história. A morte do Gino foi um choque para mim, mas fico feliz em saber que o seu filho, Fernando, está continuando seu legado e valorizando as pessoas que sempre estiveram aqui”, diz o cliente. A caderneta do Armazém do Gino continua ativa, com mais de 50 clientes assíduos.

Fernando relembra que sua mãe, Helenice, teve importante participação no sucesso do estabelecimento. "Minha mãe sempre foi o braço direito do meu pai. Eles sempre contavam que o começo do Armazém não foi fácil, mas ela sempre o incentivou a não desistir. Ela trabalhou ao lado dele por anos", conta.

O passado no presente
Cabo de enxada, fumo de corda, chapéu de palha. Quem opta por comprar no Armazém do Gino encontra um pouco de tudo. É um minimercado completo, com preço competitivo e boa variedade de produtos. Fernando decidiu reformar o estabelecimento para evidenciar toda a história do Armazém, mantendo o ar rústico e antigo do local. modernizar algumas áreas, como o financeiro. Disponibilizou máquina de cartão para pagamento e começou a investir em marketing.

O empresário conta que não esperava que o movimento do bar aumentasse tanto com simples ações de marketing, como a divulgação em redes sociais. “Foi tudo muito natural. Quando reabrimos o Armazém, vi que os preços que meu pai praticava eram muito bons. Mantive muitas coisas e comecei a divulgar nas redes sociais. Decidi dar uma arrumada na casa também, construí novos banheiros e deixei a fachada um pouco mais charmosa. Mas fiz questão de manter a rusticidade e essa conexão com o passado, mantendo algumas coisas exatamente como era antigamente”, revela.

Outra ação importante tomada por Fernando foi reatar parcerias com fornecedores e comprar produtos em grande quantidade, visando preços mais baixos. “Peguei os arquivos do meu pai e fui em busca dos antigos fornecedores. Minha estratégia foi resgatar as parcerias e voltar a comprar em grande volume, como meu pai já fazia antes. Consegui fechar um contrato de exclusividade com a AMBEV e, assim, consigo comercializar os produtos com preços bem acessíveis”, comenta.

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Família unida no trabalho. Fernando divide as tarefas do Armazém com seu tio, irmão do Gino, Getúlio, e seu primo.

A simplicidade da história do local, que antes era frequentado apenas por homens simples que passavam para tomar alguma bebida ou fazer compras, atraiu novos frequentadores, principalmente o público jovem, que lota a frente do Armazém todos os dias. “Virou um ponto histórico e bem caricata de Itapeva. É um pedaço da história da nossa cidade, e da minha família, que quero preservar”, resume Fernando.

Onde fica?
O Armazém do Gino fica na Avenida Acácio Piedade, 329, na região central de Itapeva. Funciona de segunda-feira a sábado, das 8h às 20h. O telefone é o (15) 3522.0717. No Facebook, eles estão como @armazemdogino.