Luta e vitória de Fabrícia Cruz

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A história da mulher que venceu a depressão fazendo atividade física e controlando a mente

Fabrícia Cruz vivia uma vida tranquila. Cuidava da sua família, do trabalho e da saúde, até que um dia se viu em meio a uma profunda e insuportável tristeza. De uma hora para outra, ela não encontrava mais motivação para realizar até as tarefas mais simples do dia-a-dia. O diagnóstico médico foi claro: ela estava com depressão. Com a doença, chegaram novos problemas, como o aumento de peso, a perda da autoestima e a baixa imunidade. Hoje, oito anos depois, ela está curada e, todos os dias, uma frase se repete em sua mente: “Nunca se esqueça de onde Deus tirou você”.

Falar disso hoje não é problema para ela. Mas no auge da doença – que durou cerca de quatro anos –, ela mal conseguia coordenar os próprios pensamentos. “As frases que saiam da minha boca não estavam de acordo com o que eu estava pensando”, recorda. As pessoas diziam para mim que eu não poderia estar triste, afinal eu tinha uma bela família, uma bela casa. E aí é que eu me sentia ainda mais triste e fracassada”, revela.

A depressão surgiu na vida de Fabrícia em 2009, desencadeada por uma profunda decepção que ela sofreu com pessoas integrantes de um grupo do qual ela participada e que promovia trabalhos sociais na cidade. Com essa ruptura ela, que sempre foi ligada à Igreja, teria de deixar seu projeto no qual atendia cerca de 150 crianças carentes. “Eu não poderia continuar no grupo, e sofria demais por deixar o projeto que eu realizava”, conta. Sem escolha, ela deixou as atividades e foi se sentindo cada vez mais triste. E com medo.

Deixou de ir à academia, passou a comer mais para tentar se sentir melhor e, já com a síndrome do pânico, passava os dias de pijama em casa. Um dia, o marido Claudio sentou-se ao seu lado e disse que ela precisava de ajuda e que ele a levaria ao médico. “A gente não tem consciência do quanto está mal, até que alguém que nos ama faz o alerta. Por isso, a família é muito importante para quem está sofrendo com depressão e outros distúrbios”, ensina.

Foram meses em busca de ajuda médica e do remédio certo para a doença. “Os efeitos eram terríveis, iam desde a confusão mental até a sensação de estar ausente durante um encontro de família, por exemplo. Eu olhava as pessoas rindo e tentava rir também, mas não me sentia fazendo parte daquele momento”.

A busca pela cura continuava e já fazia quase quatro anos quando ela conseguiu diminuir os medicamentos. Terapias alternativas como acupuntura e acompanhamento psicológico também foram fundamentais. Ainda assim, para conseguir dormir, ela dependia dos medicamentos psicotrópicos. E foi em 2013 que ela se descobriu grávida da sua segunda filha. “Passei a gravidez toda em claro”, conta ela, se referindo ao fato de que precisou parar com o sedativo, para não prejudicar o bebê.

Mesmo depois do nascimento da garotinha, Fabrícia ainda vivia altos e baixos em seu sistema emocional. Um ano depois, com 15 quilos a mais e pré-diabética, ela aproveitou um dos momentos em alta para aceitar o convite do marido para correr na rua. “Ele sempre me convidava, e eu queria muito acompanha-lo, mas nunca tinha disposição, até que um dia eu resolvi tentar”, lembra.

 

Volta por cima

A corrida seria em Itararé (SP), com percurso de seis quilômetros. Fabrícia mal conseguia correr 200 metros na Praça de Eventos, mas mesmo assim se inscreveu para a competição. Eu queria tanto acompanhar meu marido, que comecei a treinar com minha amiga, a Elaine Bufalari. Ela já corria bastante, mas teve a paciência de correr pequenos percursos comigo”, recorda, rindo. Com o passar dos dias, Fabrícia conseguiu completar sua primeira volta completa na praça correndo.

Apesar da comemoração, ela sabia que ainda não estava preparada para disputar a corrida em Itararé, mas foi mesmo assim. “Eu estava tão motivada que corri os seis quilômetros em 37 minutos”, diz ela. No dia seguinte, no entanto, veio a conta. Ela descobriu que estava com os dois joelhos inflamados. No consultório médico, o diagnóstico foi de condromalácia, patologia crônica degenerativa da cartilagem. “O médico me disse que eu nunca mais poderia correr. Foi horrível ouvir aquilo, mas eu não desisti. Tomei todos os remédios que ele receitou, e não deixei de treinar, sempre com o sonho de voltar a correr, queria sentir aquela sensação maravilhosa de novo”, conta ela, que é fisioterapeuta e sabia que poderia reverter o quadro.

Fabrícia e o marido Claudio, na primeira corrida em Itararé (SP)

Fabrícia e o marido Claudio, na primeira corrida em Itararé (SP)

Os treinos de fortalecimento muscular eram realizados na Korpen, academia onde ela conheceu a personal trainer Andrea Ascacibas. Foi depois desse encontro que teve início, em junho de 2016, o treino que mudou de vez a vida e o corpo de Fabrícia. “Foi com o acompanhamento dela, seu método de nos motivar, nos fazer acreditar em nós mesmos, que consegui me manter nos treinos e na dieta e sair definitivamente da depressão”, conta ela, que já no primeiro mês perdeu quatro, dos 15 quilos que havia ganhado durante o período da depressão.

 

A vitória

No fim do ano, participou de uma nova corrida, agora em Itapeva, e conseguiu chegar em 4º lugar na categoria geral. Ela correu cinco quilômetros em 24 minutos, tempo melhor do que o conquistado pela primeira corredora da sua categoria. Depois disso, várias outras corridas vieram e Fabrícia tem sempre seu nome entre os primeiros colocados.

Segundo ela, os treinos, a alimentação adequada e a força da personal trainer foram decisivos para a cura da sua depressão. “A superação nos garante um prazer capaz de acabar com nossas tristezas. Constatar que somos nós que controlamos nossa mente, e não o contrário, é uma benção. E eu espero nesta vida ajudar a motivar outras pessoas que também estejam sofrendo, sem ânimo”, diz.

Hoje, Fabrícia está entre os primeiros colocados nas corridas de rua

Hoje, Fabrícia está entre os primeiros colocados nas corridas de rua (foto: arquivo pessoal)

 

A dieta

Fabrícia segue uma dieta prescrita por nutricionista, hoje com base no conceito do low carb, ou seja baixo carboidrato. Em sua mesa de café da tarde tem chá de gengibre com canela e limão. O bolo de chocolate é feito com farinha de côco e chocolate 70%. Ela chega a fazer compras em sites de alimentos funcionais, para garantir que toda a família seja servida apenas com pratos saudáveis.

“A alimentação é muito importante, treinar também é. Mas ter equilíbrio emocional é fundamental”, ensina. Hoje, uma das frases que ela sempre tem em mente, quando a motivação ameaça fugir é “Eu não posso me dar ao luxo de não ir treinar ou de comer o que me faz mal”. Assim, ela segue a rotina que mudou sua vida, resgatou sua autoestima e a fez ser uma pessoa feliz novamente.